Um mergulho nas chuvas de poesia
Por: Luiza Mano
A chuva de poesia é, com toda certeza, um dos momentos mais encantadores do nosso Festival.
Idealizada pelo poeta, artista gráfico, editor e tipógrafo mineiro Guilherme Mansur, esse espetáculo faz parte da história de Ouro Preto desde o carnaval de 1993 e mais de 300 poetas já tiveram seus poemas espalhados aos ventos pelo projeto.
Impressas em papéis coloridos, as poesias são lançadas do alto de Igrejas e prédios históricos como gotas que atingem o público. Unindo a combinação das cores das lâminas de papel, com o visual arquitetônico e a surpresa de capturar trechos de obras de importantes escritores, a Chuva de Poesia é um verdadeiro espetáculo visual que cativa e hipnotiza crianças e adultos, instigando a leitura, o conhecimento e a brincadeira de tentar capturar e colecionar os inúmeros poemas que chovem dos céus.
Incorporada à programação do MIMO em 2013, a iniciativa mantém a tradição de seu criador, que é o responsável pela seleção de todos os poemas escolhidas. Para cada edição do Festival, um tema é escolhido como base para a curadoria das obras e você pode conferir abaixo quais foram os motes de cada ano:
2013: HOMENAGEM ÀS OBRAS DE GREGÓRIO DE MATOS
Em 2013, o MIMO homenageou os 380 anos de Gregório de Matos na primeira edição da Chuva de Poesia do Festival.
Nascido em 1636 em Salvador, Bahia, Gregório de Matos foi um dos maiores poetas brasileiros do período barroco. Formado em direito, pela Universidade de Coimbra, foi advogado durante o período colonial, mas sua paixão pela literatura o levou a trilhar outros caminhos. Satirizando o cotidiano do povo de todas as classes sociais baianas, Gregório de Matos desenvolveu seu estilo literário em torno das críticas e jogos de palavras e com uma grande variedade de rimas que o renderam a alcunha de “Boca do Inferno”.
2014: HOMENAGEM A PAULO LEMINSKI
Para este ano, o tema escolhido foi a poesia “marginal”, tendo como homenageado o poeta Paulo Leminski, que completaria 70 anos em 2014.
Escritor, poeta, crítico literário e professor brasileiro, Paulo Leminski inventou sua própria forma de escrever. Curitibano nascido em 1944, abandonou o Mosteiro de São Bento, em São Paulo – onde estudou teologia, latim, filosofia e literatura clássica, e foi para Belo Horizonte onde participou da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda. A partir disso, começou suas experimentações usando trocadilhos, ditados populares, gírias e palavrões, além de algumas referências de sua fascinação pela cultura japonesa através do haicai (poema curto japonês onde hai = brincadeira e kai = harmonia, realização).
2015: HOMENAGEM A SEBASTIÃO UCHOA
Nascido em Tibaúba, Recife, em 1935, Sebastião Uchoa foi poeta, ensaísta e tradutor. Publicou seu primeiro livro intitulado “Dez Sonetos sem Matéria”, em 1960, e formou-se em Direito e Filosofia pela UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), em 1962. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou com traduções, edições de livros e enciclopédias, tendo sido também um dos responsáveis pela publicação da revista José, onde eram publicadas obras de poetas dos mais variados estilos. Em 1980 conquistou o Prêmio Jabuti, tradicional prêmio brasileiro de literatura, na categoria poesia, com “Antilogia”. Autor de versos curtos e irônicos, publicou 12 obras entre poemas e ensaios ao longo de sua carreira e teve seus 80 anos celebrados pelo MIMO nessa edição do festival, na Chuva de Poesia.
Neste ano, o MIMO ainda trouxe, especialmente na edição carioca do festival, uma homenagem ao Museu da República por seus 55 anos com poemas de Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, Murilo Mendes e Oswald de Andrade.
2016: HOMENAGEM AOS POETAS PORTUGUESES – Teixeira de Pascoaes, Mário de Sá-Carneiro, Mário Cesariny e António Maria Lisboa
No primeiro ano da nossa edição internacional em Amarante, Portugal, os homenageados pela Chuva de Poesia foram os autores portugueses Teixeira de Pascoaes, Mário de Sá-Carneiro, Mário Cesariny e António Maria Lisboa, influenciadores do movimento poético surrealista no país. Buscando explorar o desconhecido, os surrealistas pretendiam atingir o pensamento real e puro, livre de censuras estética ou moral, desprendendo-se de qualquer convenção.
2017: HOMENAGEM ÀS MULHERES POETAS DO MUNDO
Seguindo a decisão de manter uma programação totalmente feminina nesta edição do MIMO, a chuva de poesia de 2017 foi dedicada às mulheres poetas do mundo.
Autoras de diferentes estilos, nacionalidades e épocas, as homenageadas possuem grande destaque na literatura mundial, tendo suas obras reproduzidas, lidas e compartilhadas por amantes da poesia das mais variadas idades e gostos. Dentre as autoras selecionadas estavam as brasileiras Ana Cristina Cesar, Cecília Meireles, Hilda Hilst e Maria do Carmo Ferreira, a portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, a russa Marina Tzvietáieva, a americana Emily Dickinson, a grega Safo, a indiana Madeviaca, além dos haikais de Chiyo-ni e Sono-jo, do Japão; e da poeta indiana radicada no Canadá Rupi Kaur.
2018: HOMENAGEM A HILDA HILST – AFLIÇÃO DE SER EU E NÃO SER OUTRA
As palavras de Hilda Hilst são instigantes, inovadoras e abrangentes.
Nascida em Jaú, em 1930, foi poeta, dramaturga e cronista e revolucionou a literatura brasileira com seus textos que abordavam a insanidade, o erotismo e a libertação. Em 1980, seu livro “Ficções” lhe rendeu o título de Livro do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e, em 1984, conquistou o Prêmio Jabuti por “Cantares de Perda e Predileção”- Prêmio que voltaria a receber, em 1993, por “A obscena senhora D. Qadós”. Seu talento e irreverência foram homenageados pelo MIMO Festival na Chuva de Poesia, em 2018.
2019: HOMENAGEM AO AMOR – AMOR EM VERSOS
Este ano, a chuva de poesia homenageou o amor em suas diversas formas.
Com poesias de artistas de diversas nacionalidades e estilos como Arthur Rimbaud, Mário de Sá-Carneiro, Jorge de Sena, Nicolas Behr, Oswald de Andrade, Heine, Carlos Drummond de Andrade, Gregório de Matos, Manuel Maria Barbosa du Bocage, Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes, Sophia de Mello Breyner Andresen, Pablo Neruda, Maria de Sá Carneiro, José Saramago, Carlos Queiroz, Jorge de Sena, Ferreira Gullar, Florbela Espanca, Luís de Camões, Mário Quintana, Cora Coralina, Cecília Meireles e Chico Buarque, espalhamos versos de diferentes épocas, estilos e nacionalidades, colocando em evidência esse sentimento leve, bonito, intenso…mas cheio de enigmas.