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Paraty se transforma em uma grande festa na noite de abertura do MIMO

15/10/2016

Por Deborah Dumar

Foto: Beto Figueiroa

Pela quarta vez consecutiva, a cidade de Paraty, na Costa Verde do Rio de Janeiro, recebeu calorosamente a edição 2016 do MIMO Festival, das 10h de sexta-feira até quase as duas da manhã de sábado, quando o rapper Emicida encerrou a sua apresentação para uma plateia numerosa e vibrante, que cantava e dançava animada, em perfeita comunhão com o artista.

O primeiro dia do MIMO Paraty foi bastante concorrido, a começar pela aula-espetáculo do MIMO para Iniciantes, que ocupou a secular Matriz Nossa Senhora dos Remédios, com crianças e adolescentes com alegria em estado bruto. Este contato inicial dos estudantes que moram na cidade com a música de câmarafoi proporcionado pelo quarteto de cordas liderado pela violinista Ana de Oliveira.

A curiosidade e o entusiasmo também tomaram conta da plateia majoritariamente jovem que lotou a Casa da Cultura, à tarde, para participar do encontro entre o premiado escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, mediador do Fórum de Ideias nesta edição do MIMO Festival e que aborda o tema “Lugares de memória”, e o artista brasileiro. Os dois já se conheciam desde que Emicidaviajou à África para gravar o novo álbum, “Sobre crianças, quadris, pesadelo e lições de casa”, e Mário Lúcio exercia o cargo de ministro da Cultura de Cabo Verde.

De forma leve e bem-humorada, delinearam com clareza os contrastes e conexões entre Brasil e os países africanos, as diferentes visões que os livros de história oferecem sobre a cultura e a tradição comuns aos povos que falam a língua portuguesa – que, se diferenciam e, ao mesmo tempo, se irmanam – ilustrando a conversa com algumas particularidades sobre termos que usamos no cotidiano e têm significados bem distintos aqui e Cabo Verde, como “galante” (que, nas ilhas cabo-verdianas, ao contrário do Brasil, é um termo muito ofensivo, que significa “feio e ridículo”. Ao final das suas ponderações e de Emicida, o público foi convidado a participar do debate, levantando as suas questões.

Sexta-feira também marcou a abertura do Festival MIMO de Cinema em Paraty, com exibições gratuitas de filmes inéditos de temática musical e com entrada franca, a exemplo de toda a programação do MIMO. Os dois primeiros selecionados – e muito aplaudidos pelo público na noite de sexta foram “De quando em vez”, de Jáder Barreto Lima e Raffaela Pereira de Lima, e “Caminhos do coco”, de Joice Temple.

Músicas de várias tribos

Na primeira noite do MIMO Paraty, os concertos representaram com perfeição a diversidade musical com que que o festival contempla o público.  Destacando a importância e beleza das obras compostas especialmente para quartetos de cordas, por compositores de todo o mundo escreveram, o Ana de Oliveira Quarteto apresentou na Matriz de Nossa Senhora dos Remédios um repertório de diferentes movimentos que mostram toda a riqueza dessas composições por grandes autores brasileiros, como Villa-Lobos (que escreveu 17 músicas para esta formação),movimentos de um autor que foi sendo esquecido com o tempo, mas que é de grande importância na música brasileira, o compositor José Siqueira, e músicas dos consagrados Guerra-Peixe e Radamés Gnatalli. Ao final, o quarteto foi aplaudido de pé pelo público que lotou a igreja.

Às dez da noite, atraída pelo forte batuque e as harmonias vocais do DakhaBrakha, o público saiu em direção ao palco da Matriz para assistir a um dos mais novos fenômenos da música do Leste Europeue que vem conquistando plateias por toda parte do mundo. Com chapéus pretos e altos e trajes estampados em branco, preto e vermelho, os atores e músicos exímios da Ucrânia se revezavam entre acordeões de vários tamanhos, diferentes objetos de percussão, tambores, piano e violoncelo, revestindo a folkmusic de seus ancestrais com ritmos contemporâneos e de diferentes partes do mundo, até chegar ao rock e o rap.

Mesmo sem entender palavra, o diálogo entre artistas e plateia se estabeleceu prontamente, através da repetição de sons que imitavam pássaros, do estalar de dedos e palmas para marcar o ritmo das músicas. O DakhaBrakha saiu de cena ovacionado pelo público, que não arredou pé, nem sob a fina chuva, e ainda pediu bis. Os quatro cantores e instrumentistas voltaram ao palco para mostrar uma das músicas que vem fazendo sucesso pelos palcos mundo afora, “Baby”.

Ô sorte! – Com a Praça da Matriz tomada por milhares de fãs e ao lado de seis músicos de sua competente banda, à meia-noite em ponto, Emicida deu início a uma apresentação impecável ao longo de 1h45. Aos poucos, a chuvinha do início do show foi se dissipando até parar. O artista paulistano misturou músicas novas a antigas, cantou com a plateia uma seleção de sucessos – “Mãe”, “Hoje cedo”, “Levanta e anda”, ‘Passarinhos” , “Mufete” e “Madagascar (a primeira que compôs em território africano) – e convidou Wilson das Neves ao palco, para homenageá-lo.  Juntos, eles cantaram duas músicas do sambista (“Grande hotel”, dele e Chico Buarque, e “No dia em que o morro descer e não for carnaval”). Em seguida, foi a vez de o rapper dedicar uma música sua ao seu Wilson, “Ô sorte!”.

Com a plateia em suas mãos, o rapper seguiu cantando e dançando, fez um tributo à Clementina, entoando “Marinheiro só” a cappella, para se despedir, mas não conseguia. A multidão não deixava, queria mais, e ele dava. Um grande coro se formou: “O céu é meu pai/ A terra, minha mãe/ E o mundo inteiro é/ Tipo a minha casa” – repetiam as milhares de pessoas em frente ao palco, como se fosse um mantra.  A festa acabou e a lua cheia surgiu, esplendorosa no céu de Paraty.

 


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