Otto faz concerto apoteótico no encerramento do festival
Por Deborah Dumar
Foto: Beto Figueiroa
Com a Praça do Carmo tomada por fãs de todas as idades, o cantor e compositor pernambucano Otto encerrou, na noite de domingo, em Olinda, a edição 2017 do MIMO Festival, com o concerto de lançamento de seu novo álbum, “Ottomatopeia”.
A cidade estava repleta de moradores de Olinda e de turistas da vizinha Recife, da Paraíba, do Piauí e de estrangeiros, que lotavam as pousadas, restaurantes e bares da cidade-patrimônio para participar das atividades do MIMO, que oferece programação gratuita e apresenta artistas consagrados e novas tendências da música do mundo. A tarde foi colorida por grupos de coco e de maracatu. No início da noite, a multidão desceu as ladeiras para o incendiário show do artista pernambucano.
No dia anterior, ao participar do Fórum de Ideias do MIMO, em um espaço do secular Convento de São Francisco – que já acolhera um concerto da harpista francesa Laura Perrudin – repleto de jornalistas e admiradores, Otto discorreu sobre o tema “Ottomatopeia: Inquietações de um ser romântico”.
Evidentemente, o artista conhecido por sua postura política não se limitou a falar sobre o amor, tema central do novo álbum Suas declarações refletiam bem o seu senso de humor e, depois do bate-papo aberto à plateia, conduzido pela jornalista Chris Fuscaldo, não se importou em fazer selfies com os numerosos fãs que o cercavam.
Pouco antes da participação de Otto no encerramento do MIMO Festival, que vai comemorar 15 anos de criação em 2018, o palco da praça recebeu o cantor português Manel Cruz, artista muito popular em Portugal desde que surgiu com a banda de rock Ornatos Violeta, na década de 1990, e que, pela primeira vez, se apresenta no Brasil.
O público do MIMO também prestigiou o festival de cinema, que, durante três dias, exibiu filmes inéditos com temática musical na Tenda da Ribeira. O encerramento ficou por conta da mais recente produção de Vincent Moon e Priscilla Telmon, “Híbridos, os espíritos do Brasil”, dupla de cineastas que realizou uma “Live performance” após o filme.
“Salve o MIMO, salve Olinda! Viva a democracia, a arte, a música! Salve Marcos Axé!”, saudou o cantor, muito emocionado, ao entrar no palco. A calorosa plateia do MIMO foi solidária ao artista, que dedicou o show ao percussionista Marcos Axé, que, como ele, participou do movimento Manguebeat e integrava a sua banda desde a gravação do álbum “Samba pra burro” (1998). Axé veio a falecer na madrugada, aos 39 anos, de um ataque cardíaco.
“Só mesmo a magia do palco para celebrar este grande músico, amigo, irmão, filho e parceiro de vida”, escreveu o artista, em sua página do Facebook, em homenagem ao amigo. O percussionista Toca Ogan, da Nação Zumbi, substituiu Axé na noite de domingo.
O concerto de Otto teve ainda as participações de Gilmar Bala Oito, um dos fundadores da Nação Zumbi, e de Lirinha, que integrou o Cordel do Fogo Encantado e levou o público a declamar com ele os versos de “Os três mal-amados”, de João Cabral de Melo Neto: “O amor comeu minha paz e minha guerra/ Meu dia e minha noite/ Meu inverno e meu verão/ Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça/ Meu medo da morte”.
Otto apresentou as músicas do novo trabalho, com o público fazendo coro em muitas delas, como em “Bala” (“Bala que dispara contra o tempo/ Volta/ Palha quando queima na beira da estrada/ Me avisa/ Sabe, quando passo aqui por perto, lembro dos seus olhos/ Chorando/ Chuva que começa cedo molha/ Me abusa”), na parceria dele com Zé Renato, “Carinhosa” (“Me para e olha/ Pra minh’alma/ Pra minh’alma vazia/ Me traz de volta/ Me traz de volta/ Pra viajar na alegria…”) e na sua versão para “Meu dengo”, sucesso de Roberta Miranda.
Ao lado dos artistas convidados e durante as duas horas de show, além das músicas do álbum mais recente, prestou homenagem a Alceu Valença, cantando “Olinda, sonhos de valsa”, e botou todo mundo para dançar com a sua “Ciranda de maluco” e o megassucesso de Chico Science e Nação Zumbi, “Praieira”, fazendo uma apresentação inesquecível.
O que destoou da noite foi o comportamento da Polícia Militar, que avançou sobre o público, que pacificamente deixava a Praça do Carmo após o show, com cassetetes, chutes, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. A lamentável e desnecessária demonstração de força foi criticada publicamente pela organização do MIMO, através de nota de repúdio distribuída à imprensa.