MIMO Amarante celebra os 80 anos do inigualável Tom Zé com música e cinema
Por Deborah Dumar
Fotos: Beto Figueiroa
Expressão mais radical do Tropicalismo, do qual é um dos fundadores, o originalíssimo artista brasileiro é homenageado pelo MIMO Festival Amarante, na primeira edição internacional do festival. Ele fará o show de abertura no dia 15 de julho, no Parque Ribeirinho, às 23h, com entrada franca.
Dono de uma vitalidade surpreendente – ele completará 80 anos no dia 11 de outubro – está sempre se reinventando, atento às novidades “A gente deve ouvir tudo” e provocando polêmica, com seu discurso afiado e irreverente. O aniversário do cantor, compositor e arranjador também será celebrado pelo Festival MIMO de Cinema, que organizou a Mostra Tom Zé.
A extraordinária performance no palco e a incrível capacidade de interagir com a plateia transformam cada apresentação do artista em um show ímpar. O público português do MIMO conhecerá neste concerto seu mais recente trabalho, o álbum “Vira lata na Via Láctea”, que recebeu destaque da crítica pelas sonoridades e poética inovadoras.
No repertório, Tom Zé contempla admiradores mais jovens como a faixa de abertura do CD, “Geração Y”, dirigida ao público que cresceu conectado à internet, e “Banca de jornal”, a primeira parceria com o rapper Criolo, e traz música feita a quatro mão com Caetano Veloso, “A pequena suburbana”. Cantará também para os fãs mais antigos, relembrando sucessos marcantes de sua carreira como “2001”, assinado por ele e a roqueira Rita Lee, e “Augusta, Angélica e Consolação”, do antológico álbum “Todos os olhos” (1973), canção em que faz um jogo lúdico com o nome de importantes vias de São Paulo, onde mora até hoje.
Do Recôncavo baiano para o mundo
Nascido na pequena Irará, no interior baiano, e tendo se mudado para a capital, Salvador, a fim de completar os estudos, Tom Zé (nome artístico de Antônio José Santana Martins) frequentou a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, onde foi aluno de Ernst Widmer, Walter Smetak e do dodecafonista Hans Joachim Koellreutter na década de 1960.
Naquele efervescente ambiente cultural, reuniu-se a Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia e Djalma Corrêa no espetáculo “Nós, por exemplo”, no Teatro Vila Velha, sob a direção de Gil e Roberto Santana, em 1964. Foi com o grupo para São Paulo como integrante da montagem de “Arena canta Bahia”, sob a direção de Augusto Boal.
Um dos expoentes do movimento vanguardista de ruptura e universalização da cultura brasileira, Tom Zé participou da gravação do disco-manifesto “Tropicália ou Panis et Circensis”, lançado no auge da ditadura militar, em 1968. A capa foi feita na casa do fotógrafo Oliver Perroy, com aproveitamento das sugestões do coletivo. O resultado saiu meio underground, com pitadas tropicalistas tupiniquins . O histórico álbum reuniu, além dele, Caetano, Gil, Nara Leão, Os Mutantes, os poetas Capinam e Torquato Neto e o genial maestro Rogério Duprat. Naquele mesmo ano, tornou-se conhecido do grande público através do IV Festival de Música Popular Brasileira, da TV Record, sendo aplaudido de pé com “São, São Paulo meu amor”, e lançou o álbum de estreia, “Grande liquidação”. Enquanto Gil e Caetano seguiam para o exílio em Londres, Tom Zé permaneceu no país com suas experimentações musicais.
Renascimento – Já nos anos 1980, quando saía no mercado com o álbum “Estudando o samba” foi “descoberto” pelo músico e produtor David Byrne (ex-Talking Heads). Encantado com este artista singular, Byrne decidiu lançar sua obra nos EUA, reunida na compilação “The best of Tom Zé”, que alcançou enorme sucesso e figurou entre os dez discos norte-americanos mais importantes da década.
Renasceu artisticamente, lotando plateias e conquistando novos fãs nos EUA, Europa e também no Brasil, fazendo turnês e compondo com mais regularidade. Em outra investida bem-sucedida no mercado fonográfico internacional, lançou em 2010 “Studies of Tom Zé – Explaining things so I can confuse You (Tô te explicando pra te confundir)”.
Desde então, Tom Zé passou a receber espaço nobre da mídia, importantes prêmios e convites para participar dos mais concorridos festivais do mundo. Em 2015, apresentou um concerto memorável no Parque Lage (Rio de Janeiro), na 12ª edição do MIMO Festival.