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Uma noite para ninguém botar defeito

12/11/2017

Por Deborah Dumar
Foto: Beto Figueiroa

Nem a chuva de sábado foi capaz de arrefecer o ânimo do público do MIMO Festival, no Rio de Janeiro. Os cinéfilos lotaram o Odeon, para assistir aos documentários “Sobre noiz” – que registra a passagem de Emicida por Angola e Cabo Verde para gravar o álbum “Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa” – “Torquato Neto, todas as horas do fim”, de Eduardo Ades e Marcus Fernando, sobre o poeta piauiense conhecido como “o anjo torto da Tropicália”, e “Híbridos”, um interessante painel sobre a religiosidade nas diferentes regiões do Brasil, dirigido por Vincent Moon e Priscilla Telmon.

No Museu da República, o público e alguns músicos prestigiaram os encontros com o cantor e compositor angolano Paulo Flores, a maior referência do semba, e a harpista, cantora e compositora francesa Laura Perrudin, que se apresentam hoje, em concertos gratuitos, na Marina da Glória e no Outeiro.

Aos poucos, os participantes do MIMO, na Marina da Glória, foram engrossando a plateia para assistir aos concertos do jovem grupo Relógio de Dalí, vencedor do Prêmio MIMO Instrumental, do popular artista português Manel Cruz e do guitarrista Vieux Farka Touré, com seu malian blues.

Pelo sotaque, era possível identificar de imediato os portugueses que chegavam animadíssimos para o show de estreia no Brasil de Manel Cruz, que se consagrou na década de 1990 como vocalista, guitarrista e compositor da banda Ornatos Violeta e está em carreira solo. Entre os fãs que fincaram pé na fila do gargarejo, destacavam-se a professora da UFRJ Teresa Gonçalves, de 45 anos, nascida em Évora, e a estudante Ana Bruno, da cidade de Faro, que faz pós-graduação na Uerj.

Entre gritinhos de “lindo” e “uh hu!”, as duas cantavam o sucesso “Capitão Romance”, que foi regravado pelos curitibanos de A Banda Mais Bonita da Cidade, a quem Manel saudou do palco. “Viria ver o Manel Cruz, nem que precisasse saltar a cerca! Os shows dele, da rapper Capicua e de Emir Kusturica com a The No Smoking Orchestra formam o alinhamento perfeito. Não podia perder!”, explicava Ana, que não parou um minuto de dançar e fazer coro com os artistas.

Vizinha a elas, a jornalista lisboeta Sofia Perpétua, de 35 anos, vibrava com Manel Cruz, de quem matava as saudades: “Ele e a  Ornatos Violeta fizeram parte da minha adolescência e da minha vida. Assisti a um concerto da banda na Expo 98 e gostei muito dos trabalhos solo do Manel, Pluto e Supernada, que acompanhei pelo Youtube, pois estou há 11 anos fora de Portugal. É um luxo ver um show dele e de graça no Rio de Janeiro. Ele é um dos maiores artistas e poetas portugueses e que não tem medo de arriscar. O concerto foi fabuloso e Manel estava em perfeita sintonia com o público carioca. Foi fabuloso, uma noite inesquecível para mim!”

Para o artista do Porto, a sensação de estrear em um palco brasileiro foi muito gratificante. Em algumas vezes, com a boa receptividade do público do MIMO Rio, repetia no palco “É um tesão tocar aqui, um tesão brasileiro!”: “Foi como começar do zero. Em Portugal, todos me conhecem, mas aqui, não. A minha no Rio de Janeiro foi muito fixe!”, celebrava, com sua banda, no backstage, ao final do show. Manel Cruz também é uma das atrações do MIMO Festival, na cidade de Olinda, Pernambuco.

À espera do desert blues de Vieux Farka Touré, o DJ Montano aquecia a plateia da Marina com mais um set, botando todo mundo para dançar. Quando o guitarrista, consagrado pela crítica europeia – ele foi considerado “o novo herói da guitarra africana”, pelo jornal britânico “The Guardian”, por sua destreza técnica, virtuosismo e carisma – pisou no palco, o público já tomava conta de quase toda a área de shows.

Causou emoção ao dedicar duas canções ao pai, o músico de renome internacional Ali Farka Touré (1939- 2006), com “Missing” e “Waladu”. Ao fundo, o telão mostrava a imagem do vencedor de três Grammy. Durante uma hora e meia de música, Vieux não deixou ninguém parado na plateia durante uma hora e meia de show.

O guitarrista do Mali, que encantou a plateia portuguesa do MIMO Amarante, adorou tocar no Rio e felicitou o festival por dar oportunidade a todas as pessoas de conhecerem o trabalho de artistas de outras partes do mundo, com a sua programação inteiramente gratuita: “O MIMO é soberbo! Foi muito bom tocar em Amarante e aqui, no Rio de Janeiro, para este grande público, em que certamente há pessoas que, muitas vezes, não podem participar dos festivais, por não terem condições para isso. O público carioca, você percebe facilmente, ama música!”.

“Isso é coisa de preto!”

A área de shows da Marina da Glória foi inteiramente tomada pelos fãs dos rappers Emicida e Rael, que apresentaram, em primeira mão no Brasil, o projeto “Língua franca”, ao lado da brilhante MC portuguesa Capicua. O álbum está concorrendo ao Grammy Latino, com a faixa “A chapa é quente”.

O trio incendiou a noite do MIMO Rio com um show para ninguém botar defeito, onde apresentou as composições do recém-lançado e vitorioso projeto transatlântico, além de sucessos das carreiras individuais e que teve a participação especial de Coruja.

“Isso é coisa de preto!”, repetiam os rappers paulistanos, ovacionados freneticamente pelo público que lotava o lugar e fazia coro em todas as músicas, como “Levanta e anda”, “Bang!”, “O hip hop é foda” e “Egotrip”, além das composições do mais recente álbum de Rael, “Coisas do meu imaginário”, lançado há um ano, de “Emoriô”, de João Donato e Gilberto Gil, e de um dos marcos da carreira de Elis Regina, “Casa no campo”, que foi homenageada por Capicua com uma versão feita a partir do sucesso de Sá, Rodrix & Guarabyra.

Para manter o público no alto astral, o premiado cineasta sérvio Emir Kusturica entrou com os oito afiados instrumentistas de sua banda, The No Smoking Orchestra, já em clima de festa gitana. Os músicos se divertiram a valer no palco e com o animadíssimo público que, mesmo sem entender uma palavra da língua dos Balcãs, dançou, pulou e cantou até a madrugada e ainda pediu bis, no que foi atendido prontamente.

Em sua estreia no Rio de Janeiro e uma das raras vindas a Brasil, Kusturica & TNSO apresentaram músicas do álbum que sairá em março, tocaram sucessos da carreira – aplaudidas em várias partes do mundo – e um tema em espanhol, “Cerveza”, feita em homenagem ao público da América Latina, segundo o diretor, que teve seu novo filme, “Na Via Láctea”, exibido em concorrida sessão na abertura do Festival MIMO de Cinema.

 


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