Autor de músicas imortais, Paulinho da Viola está em turnê comemorativa de seus 80 anos, completados em novembro, e presenteia o público com uma seleção de algumas das mais belas músicas de sua carreira. Estão no roteiro sucessos como “Dança da solidão”, Coração leviano” e “Pecado capital” e canções que fazem parte de sua memória afetiva. Além da banda que o acompanha há décadas, Paulinho contará neste concerto com as presenças de dois filhos, o violonista João Rabello e a cantora Bia Rabello.
O refinamento da obra deste carioca de Botafogo e a elegância de suas interpretações fizeram com que ficasse conhecido como “O príncipe do samba”. Com mais de 230 músicas e de 560 gravações e regravações por diferentes nomes da música brasileira – como Chico Buarque, Maria Bethânia, MPB4 e Raimundo Fagner – tornou-se também uma referência para as gerações seguintes, a exemplo de Marisa Monte, Teresa Cristina, João Camarero e Mario Sève.
Filho do renomado violonista César Faria, que integrava o conjunto de choro Época de Ouro, Paulinho cresceu ouvindo em casa Jacob do Bandolim, Pixinguinha e Dilermando Reis, e observava como eles tocavam. Convenceu o pai a lhe dar o primeiro violão aos 15 anos e, aos 19, conseguiu o primeiro emprego numa agência bancária.
Reconheceu Hermínio Bello de Carvalho entre os clientes e, na rápida conversa que tiveram, descobriram que se conheciam das rodas de choro. “Antes de ir embora, ele me disse que eu deveria sair do banco enquanto ainda era jovem, ou me tornaria um burocrata frustrado. Fiquei com aquilo martelando na cabeça. Dias depois, aceitei um convite dele para conhecer o Zicartola, um boteco que o Cartola e a Dona Zica tinham inaugurado na Rua da Carioca”, contou o artista em entrevista a Bruno Ribeiro. Seu nome artístico foi sugerido por Zé Kéti e pelo jornalista Sérgio Cabral.
Herdeiro musical de Cartola – que também lhe pagaria o primeiro cachê no reduto de sambistas, chorões e intelectuais – Paulinho decidiu acatar o conselho de Hermínio, depois da noite em que acompanhou Ciro Monteiro numa canja. Passou a tocar violão e cavaquinho com os compositores e intérpretes e foi incentivado por Zé Kéti a também mostrar as suas músicas. Em 1964, Oscar Bigode, seu primo e diretor de bateria da Portela, o levou para a escola de Oswaldo Cruz.
Participou em 1965 do musical “Rosa de Ouro”, que lançou Clementina de Jesus e virou disco da Odeon, e do conjunto A Voz do Morro, formado por Anescar do Salgueiro, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Jair do Cavaquinho e Paulinho, além de Oscar Bigode, Zé Cruz e de Zé Kétti, que organizou tudo a pedido da Musidisc, a mesma que incluíra Paulinho no LP “Roda de Samba”.
O primeiro disco solo saiu em 1968, em plena ditadura e época de efervescência artística. Venceu o festival da Record com a sublime “Sinal fechado” e emplacou “Foi um rio que passou em minha vida”, na Feira da MPB, da Tupi, ambas lançadas em 1969 e que lhe deram projeção nacional. Com vários discos em catálogo, recebeu dois Grammy na categoria “melhor álbum de samba”, por “Acústico MTV – Paulinho da Viola” (2008) e “Sempre se pode sonhar” (2021). Seu peso é tamanho na nossa cultura popular, que, em 2012, saiu pela primeira vez no carnaval de Madureira o bloco “Timoneiros da Viola”, em sua homenagem e a outros mestres da música.