Samba de Criolo encerra festival na Marina da Glória
Por Deborah Dumar
Foto: Beto Figueiroa
Sob o céu azul de brigadeiro do domingo, a Marina da Glória foi tomada pela juventude do Rio de Janeiro, ansiosa pelas apresentações de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem, do consagrado cantor e compositor angolano Paulo Flores e do rapper paulistano convertido ao samba, Criolo.
Para abrilhantar ainda mais o encerramento da terceira edição do MIMO na Cidade Maravilhosa, Criolo convidou o veterano sambista Nelson Sargento a participar de seu concerto e logo estava ajoelhado diante do bamba da Mangueira, emocionando o público.
Nelson Sargento foi ovacionado ao se dirigir aos milhares de espectadores com suas mensagens. “Juventude do meu Brasil, nunca entregue os pontos! Pra frente, sempre pra frente!”, “A vida só é ruim para quem não sabe esperar”, além de repetir seu famoso bordão “O samba agoniza, mas não morre”, antes de interpretar “Falso amor sincero”.
A alegre plateia de fãs cantou em uníssono com Criolo as músicas do novo álbum, “Espiral de ilusão”, inteiramente dedicado ao samba, e sucessos do gênero gravados em outros discos. “Lá vem você”, “Língua felina”, “Linha de frente”, “Casa de mãe”, “Fermento pra massa”, e outros larará lara lara lauês….
Com o habitual discurso de conteúdo político-social, Criolo se solidarizou aos professores do Estado do Rio, sugeriu à plateia que levantasse as mãos aos céus a fim de pedir uma chuva de bênçãos para o Brasil e o mundo, em uma manifestação pacífica, e atacou com o sucesso “Menino mimado” (“Eu não quero viver assim, mastigar desilusão/Este abismo social requer atenção/ Foco, força e fé, já falou meu irmão/ Meninos mimados não podem reger a Nação”).
Depois de uma hora e meia de show, fechou com louvor a terceira noite do MIMO Rio, de frente para a Baía de Guanabara, através de outro hit, “Nas águas” (“Nas águas do mar eu vou me benzer, vou me banhar/ Nas águas do mar eu vou pedir perdão, pra abençoar”), que todo mundo cantou.
Música de primeira e um banho de poesia no Outeiro
Horas antes de os concertos da Marina terem início, centenas de pessoas se aglomeravam no interior da Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro para assistir ao concerto de estreia no Brasil da harpista, cantora e compositora Laura Perrudin. Muito aplaudida, a jovem instrumentista francesa – que, desde 2015, é incensada pela crítica europeia – mostrou as músicas que escreveu para o recém-lançado álbum “Poisons & Antidotes”.
De cabelos raspados e toda trabalhada no pretinho básico, ela arrasou com a sua harpa cromática eletrificada e o original repertório, em que funde o jazz e o folk à musica eletrônica, à soul music e ao hip hop. Ao final do concerto, o público do Outeiro da Glória foi brindado com a Chuva de Poesia, que este ano homenageia escritoras de várias gerações e nacionalidades.
Milhares de tiras coloridas foram atiradas da torre da igreja, enchendo o céu com os versos de Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Sophia de Mello Breyner Andresen, Emily Dickinson, Safo, Chiyo-ni e Sono-jo e da Instapoeta Rupi Kaur, entre outras autoras. As pessoas disputavam os poemas como crianças por doces.
Na Cinelândia, onde desde sexta-feira o Festival MIMO de Cinema ocupava o Cine Odeon, uma fila se formava para assistir gratuitamente aos inéditos documentários “Sotaque elétrico”, de Caio Jobim e Pablo Francischelli, sobre a guitarra no Brasil, e “Fevereiros”, de Marcio Debellian, sobre a cantora Maria Bethânia, saudada pela Mangueira, que ganhou o carnaval de 2016 com o enredo “A menina dos olhos de Oyá”.
Destes dois pontos e das saídas do metrô, milhares de pessoas atravessavam a pé o Parque do Flamengo para chegar à Marina da Glória, um dos patrimônios históricos e naturais da cidade. O vocalista do BaianaSystem fez a festa com as músicas de seu álbum solo “Paraíso da miragem”, com o público cantando de cor e salteado suas músicas, como a faixa-título e “Flor de plástico”, além de “Passarinho”, do produtor paulistano e integrante de sua banda, Curumin.
A calorosa plateia de Russo Passapusso foi surpreendida com dois convidados especiais do artista, os cantores e compositores Antonio Carlos e Jocáfi, que entoaram com ele um sucesso da dupla dos anos 1970, “Você abusou”. Em seguida, foi a vez de o consagrado cantor e compositor angolano Paulo Flores botar a plateia para dançar, ao ritmo do semba e da kizomba, com as canções do recente álbum “Bolo de aniversário” e sucessos de carreira. Foi acompanhado pelo exímio guitarrista Manecas Costa, que encantou a plateia com seus solos, o baixista Mayo, o tecladista Gobliss, o baterista Ivo Costa e o percussionista João Ferreira.
O artista convidou a cantora carioca Aline Paes para interpretar “Boda” a seu lado e deixou um gostinho de quero mais. Paulo Flores se apresentará mais uma vez, no MIMO, no dia 17, na Praça do Carmo, em Olinda.
O público carioca demonstrou mais uma vez que está antenado às novidades e à programação de alta qualidade que a curadoria do MIMO Festival proporciona a cada edição. Espalhados em cangas abertas sobre o gramado, ou de pé na área de shows, os espectadores da noite de encerramento do MIMO Rio cantavam, dançavam ou namoravam a céu aberto, ocupando pacificamente o privilegiado espaço da cidade.
Próxima parada: Olinda!