Público carioca recebe calorosamente a nova edição do MIMO Festival
Por Deborah Dumar
Foto: Beto Figueiroa
A noite de abertura do MIMO Festival no Rio de Janeiro começou em alto estilo e temperatura máxima, em diversos pontos da cidade, na sexta-feira. O celebrado violinista de jazz Didier Lockwood fez um concerto irretocável na Igreja da Candelária, ao lado de dois exímios instrumentistas, o guitarrista Adrien Moignard e o contrabaixista Diego Imbert.
Lockwood fez um tributo ao mestre Stéphane Grapelli, de quem é considerado herdeiro musical, onde reuniu obras-primas do gipsy jazz, as peças de Grappeli e do parceiro Django Reinhardt, além de clássicos do jazz como “I got rhythm”, de Gershwin, e “Spain”, de Chick Corea.
A plateia vibrou quando o músico internacionalmente consagrado, em seus 40 anos de carreira, decidiu passear com seu instrumento junto ao público espalhado pelos bancos da igreja secular. Foi ovacionado de pé pelos espectadores deste concerto memorável.
Ali perto, no Espaço Cultural BNDES, três gigantes da música do Extremo Norte ao Extremo Sul da África – Ballaké Sissoko (kora), do Mali, Driss El Maloumi (oud), do Marrocos, e Rajery (valiha), de Madagascar – apresentaram o concerto de lançamento mundial do segundo álbum do 3MA, “Anarouz”, para uma plateia hipnotizada pela maestria do excepcional trio, que, recentemente participou do espetáculo “As rotas da escravidão”, do regente, gambista e compositor catalão Jordi Savall .
Didier Lockwood e 3MA voltarão a se apresentar no MIMO Festival, na cidade de Olinda, em Pernambuco na próxima semana, nos próximos dias 17 e 18. São concertos do tipo imperdível!
Na telona – Na Cinelândia, o Festival MIMO de Cinema teve a honra de apresentar, em primeira mão no Brasil, o novo longa-metragem do premiado cineasta sérvio Emir Kusturica, “On the Milky Road” (“Na Via Láctea”), em sessão lotada no Cine Odeon. Toda a programação de cinema do MIMO, a exemplo das demais atividades do MIMO, tem entrada franca (os espectadores podem retirar seus convites uma hora antes de cada sessão). Emir Kusturica e sua banda, The No Smoking Orchestra, são atração deste sábado, à meia-noite, no palco principal do festival, na Marina da Glória. Em sua primeira aparição no Rio de Janeiro, eles apresentarão composições inéditas e sucessos da banda, misturando o som do Balcãs a outras vertentes.
Com vista para cartões-postais cariocas, como o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e a Baía de Guanabara, a música foi muito bem representada na noite de abertura do MIMO pela cantora carioca Aline Paes, que apresentou seu novo concerto, estabelecendo um diálogo contemporâneo entre os sons e ritmos do Brasil, Portugal, Angola e Cabo Verde, que teve a participação especial de Júlia Vargas.
Em seguida, a jovem e competente banda francisco, el hombre, de Campinas, que concorre este ano ao Grammy Latino com o hino feminista “Triste louca ou má”, do álbum de estreia, “SOLTASBRUXA”, fez a festa dos milhares de fãs. A música, que tem quase três milhões de visualizações no Youtube, foi cantada em coro pela calorosa plateia e dedicada pela vocalista e compositora Juliana Strassacapa à numerosa equipe feminina de produção do MIMO e às “minas” da plateia.
Os músicos comemoravam a participação no festival que conheceram em 2014, na cidade de Olinda, e para o qual compuseram a faixa “Axé e auê sem fuzuê” (“Caí na vida para tocar/As rugas de um rosto que nunca vi/ E nesse meu desterrar um sabiá me distraiu e eu voei/ Seu assobio me arrastou pro mar/ Lá o batuque me fez ferver/ Disse que pra tocar quiçá/ É uma boa renascer e ver o de cá/ Foi em Olinda com uns mineiros/ Se aprochega uma nuvem preta/ Que também ia ao festival/ Mal sabia eu, que a cidade vinha regando/ Um coqueiro no seu quintal/ Se é pra se molhar, chuva lava eu”).
“É uma honra tocar no MIMO, foi o nosso maior público no Rio de Janeiro! Quando a gente estava na estrada pelo Nordeste, em 2014, calhou de estar acontecendo o MIMO e fomos direto para o show do Bongar. Chovia muito, mas ninguém parava de dançar, foi maravilhoso!”, comemorava o baixista Gomes, ao lado de Juliana, Sebastian (bateria e voz), Mateo (violão e voz), Andrei (guitarra) a banda, ao final do show, no backstage.
Coube ao aclamado coletivo Ondatrópica o show de encerramento, com o melhor da música tropical que constitui o patrimônio colombiano. Liderado pelo maestro Mario Galeano e pelo produtor Will Holand, o grupo formado por instrumentistas veteranos e jovens apresentou, com um pé na tradição e outro na modernidade, a cúmbia, o curralão, o porro e a gaita misturados ao dub, jazz e ska. Em seguida, a pista do MIMO na Marina da Glória foi comandada pelos DJS das festas Rebola e Minha luz é de LED.
No bairro do Catete, o Museu da República abriga, ao longo dos dias de festival, os workshops da Etapa Educativa e as palestras do Fórum de Ideias, enquanto as aulas-espetáculo do MIMO Para Iniciantes, destinadas às crianças entre cinco e dez anos da rede pública de ensino, estão sendo realizadas em dez pontos diferentes do Rio de Janeiro, aproximando-as do universo musical de forma lúdica, pelo bonequeiro e violinista Mr. Bruno e o Duo Bem-te-vi.