Rodrigo Amarante vai mostrar novas canções e pesquisar suas origens na cidade portuguesa
Por Deborah Dumar
Foto: Divulgação
Entregue à criação da trilha sonora para uma produção cinematográfica inglesa e com um punhado de composições inéditas para o segundo álbum solo, o cantor e compositor carioca saboreia o recomeço aos 40 anos, com o respaldo da crítica e do público.
Rodrigo, que carrega Amarante no nome e está empolgado com a oportunidade de apurar as raízes de sua família em Portugal, apresentará ao público do MIMO Festival as músicas do primeiro disco autoral, “Cavalo” – com que vem percorrendo os palcos do mundo desde o lançamento, em setembro de 2013 – e mostrar algumas das novas canções.
Estabelecido em Los Angeles, o músico viajou para os EUA em 2007 – mesmo ano em que a banda Los Hermanos suspendeu suas atividades – a convite de Devendra Banhart, a fim de participar do álbum “Smokey rolls down Thunder Canyon”, de Devendra Banhart (posteriormente, ambos se reuniram à Marisa Monte, em L.A., para gravar a canção “Nu com a minha música”, de Caetano Veloso).
No estúdio de Banhart, Rodrigo reencontrou o baterista do Strokes, Fabrizio Moretti, que conhecera num festival em Portugal. Formou com ele e a californiana Binki Shapiro a banda indie Little Joy, que lançou um CD homônimo e fez uma série de shows por 16 cidades americanas.
Desapegou-se da carreira que construíra no Brasil e radicou-se nos EUA. Montou um estúdio portátil para gravar o introspectivo e minimalista “Cavalo”, um incontestável marco em sua trajetória, que chegou ao mercado internacional em 2014. O artista ficou ainda mais em evidência no exterior, ao ser indicado ao Emmy de 2016 como autor de “Tuyo”, tema de abertura da série “Narcos”.
Mantendo a barba, que era uma das marcas de Los Hermanos, o “Ruivo” conta, em entrevistas, que a mudança para um país estrangeiro não foi planejada. Ao longo de sua infância e adolescência, o pai, funcionário de uma multinacional, era transferido para outras cidades, como São Paulo e Fortaleza. Dessa forma, acostumou-se a deixar coisas para trás, viver em novos ambientes e a fazer novas amizades. Portanto, mudar não representa uma coisa tão difícil para ele, que encara os novos tempos e horizontes com certa naturalidade e algum fascínio.
A distância, a memória e o tempo, no entanto, estão presentes nas músicas de “Cavalo”, gravadas em diferentes idiomas – português, francês e inglês, além dos versos em japonês na faixa-título – em sua garagem, galpões e em espaços vazios que encontrava e ocupava com seu equipamento. O título remete à figura do candomblé, que serve de veículo para as entidades se manifestarem.
Na banda indie carioca, que misturava o peso do hardcore a letras românticas e despontou com estrondoso sucesso no final dos anos 1990, com o megahit “Anna Julia”, Rodrigo atuava como vocalista, flautista, guitarrista e percussionista. O grupo foi um fenômeno, que resultou na venda de 300 mil cópias do CD de estreia (1999) e uma indicação ao Grammy Latino, na categoria “melhor álbum brasileiro de rock”. A música que virou carro-chefe do álbum de estreia ganhou até uma versão em inglês do guitarrista Jim Capaldi (ex-Traffic) com uma breve participação de George Harrison.
Seguidos por dezenas de milhares de fãs por todo Brasil, os músicos faziam shows em estádios e festivais, tocavam em emissoras de rádio e apareciam em programas de grande audiência na televisão. Não conseguiram repetir a vendagem nos álbuns seguintes, porém a quantidade de fãs se multiplicava e o trabalho da banda se aprimorava.
Rodrigo Amarante foi crescendo artisticamente e emplacando composições como “O velho e o moço”, “Sentimental”, “Retrato pra Iaiá”, “Último romance” e “Do sétimo andar”, passando a dividir com Marcelo Camelo as atenções do público. Antes de embarcar para os EUA, ele ainda fez parte da Orquestra Imperial, que se destacou na cena carioca por reunir notáveis do pop e talentos da nova geração, como Pedro Sá, Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Alexandre Kassin, a veteranos artistas, como o sambista Wilson das Neves.
Ansioso para descobrir a história de seus ancestrais em Amarante
Sempre recebido com carinho pelo público de Portugal, Rodrigo conta que é grande a sua expectativa em chegar à bela Amarante. Revela, em entrevista, por e-mail, durante sua turnê pelo Japão, que quer passar um tempinho na cidade para pesquisar suas raízes, como prometera ao avô: “Estou francamente muito feliz e empolgado com os dias que vou passar lá. Espero descobrir um pouco da história da minha família portuguesa e desse nome que carrego com muito gosto.”
MIMO – O que você pretende mostrar no concerto em Amarante?
Rodrigo Amarante – Vou tocar minhas músicas, provavelmente algumas novas e, certamente, a maioria do meu último disco. Não sei ainda quais músicas novas vão entrar no disco novo, mas vou tocar algumas certamente.
MIMO – Você já iniciou as gravações do segundo álbum solo, em qual estúdio? Quem são os músicos escalados para gravar as novas músicas?
R.A. – Eu tenho meu próprio estúdio, onde gravei o “Cavalo”, é lá que vou gravar o disco novo. Resolvi escrever uma trilha de um filme antes de gravar meu disco, por enquanto estou só escrevendo. Quanto aos músicos ainda não decidi quem vai participar, isso eu decido de acordo com a necessidade, normalmente eu toco quase todos os instrumentos como foi no “Cavalo”.
MIMO – O segundo álbum de sua carreira solo traz novas parcerias ou segue a mesma linha de “Cavalo”?
R.A. – Não há parcerias, eu acho muito mais difícil escrever com os outros do que sozinho. Vai ser um disco diferente, uma espécie de segundo capítulo, mas o personagem é o mesmo, como se o Cavalo fosse a apresentação do personagem e, agora, esse personagem segue e se volta menos pra dentro e mais pra fora. Seguir uma linha, sim, porque essa linha sou eu, mas ela de desdobra, faz curvas, nunca passa pelo mesmo lugar.
MIMO – Como é a sua relação com o público português?
R.A. – Muito boa, me sinto muito honrado com o carinho e a atenção que recebo em Portugal, que é, por vezes, um público mais interessado e profundo no que se refere às letras que no Brasil.
MIMO – Você já esteve em Amarante?
R.A. – Não, apesar de meu avô ter, por toda sua vida, me feito prometer que algum dia iria voltar à terra de onde vieram meus ancestrais. Eu estou francamente muito feliz e empolgado com os dias que vou passar lá, espero descobrir um pouco da história da minha família portuguesa e desse nome que carrego com muito gosto.
MIMO – Que expectativas você tem em conhecer a cidade histórica do Norte de Portugal, no concerto aberto ao público?
R.A. – Tento não criar mais expectativa porque já tenho muito, afinal vou ao lugar de onde vem meu nome, onde meu sangue tem raízes. Estou francamente bastante feliz de ter sido convidado a tocar pra gente dessa cidade e os tantos que vem de todo país pro festival.
MIMO – Qual é a sua ligação com a cidade de Amarante, que você carrega no nome? Você pretende passar alguns dias na cidade?
R.A. – É uma relação forte, esse nome que carrego e, com ele, a história dos meus antepassados, que finalmente vou poder, com sorte, revelar. Vou passar uns dias lá sim, tentar investigar a história desses meus antepassados, vou precisar de alguma ajuda das autoridades locais, tenho certeza de que vou descobrir algo interessante. Quem sabe não me apaixono e compro umas terras por lá? O fantasma do meu avô certamente vai adorar isso!
MIMO – Você gravou o clipe da música “I’m ready” – faixa de “Cavalo” – na Cisterna de Marvão. Qual é o seu interesse por áreas históricas?
R.A. – Me interesso por história, seja ela de onde for, mas, em se tratando de Portugal, há muitas razões pra haver interesse especial da minha parte. A escolha do Marvão foi francamente estética, poderia ter sido em outro lugar, mas o que o filme representa e o tema da música, isso sim tem que ver com Portugal, a fantasia de descobrir o que há do outro lado do mundo, a projeção da chegada.
MIMO – Morando em Los Angeles e tendo sido indicado ao Emmy, pelo tema de “Narcos”, você planeja trabalhar mais com trilhas sonoras para a TV ou o cinema? Recebeu algum convite nesse sentido?
R.A. – Sim, no momento estou escrevendo a trilha de um longa- metragem e, por isso, meu disco novo vai atrasar um pouco e o lançamento só vai acontecer em 2018. Eu adoro a linguagem do cinema e sinto que escrevo músicas como cineasta que nunca fui. Então, poder trabalhar com filme é um privilégio que não pude deixar passar.
MIMO – Você pode nos adiantar algum detalhe sobre o filme ou o nome do cineasta?
R.A. – Ainda não posso revelar os detalhes do filme, infelizmente, mas posso dizer que é uma produção inglesa, um thriller político.
MIMO – A que outros projetos, paralelos à carreiro solo, você vem se dedicando no último ano?
R.A. – Entre escrever a trilha de um filme, gravar tudo e escrever e gravar um novo disco, não há tempo de sobra nem pra aparar a barba!