DakhaBrakha contagia o mundo com a música contemporânea da Ucrânia
Por Deborah Dumar
Foto:Divulgação
Antes que emita um som, o DakhaBrakha já chama a atenção pelos figurinos extravagantes, a começar pelos longos chapéus usados em cena e que viraram sua marca registrada. Quando os integrantes do quarteto da Ucrânia abrem a boca, é difícil para a multidão de fãs mundo afora compreender o que dizem (são raras as letras em inglês), mas isso não parece incomodar o público dos festivais internacionais de que participam cada vez com mais frequência e êxito.
As músicas são desconhecidas, mas podem soar familiares em alguns momentos, devido às fusões que promovem. Atração exclusiva do MIMO Festival no Brasil, o grupo se comunica de forma impressionante com a plateia, que interage com visível entusiasmo e dança no embalo de algumas canções.
Há 12 anos, quando foi idealizado para participar de uma montagem teatral de um diretor vanguardista de Kiev, certamente o DakhaBrakha não sonhava em ganhar projeção mundial, nem virar destaque em importantes publicações, como “The New York Times” (EUA), “Le Monde” (França) e “The Guardian” (Inglaterra).
Curiosamente, o som que vem despertando tamanho interesse, principalmente do público mais jovem e despojado, é a mistura vigorosa da folk music dos ancestrais desses artistas com elementos rítmicos e melódicos de toda parte do mundo – abrindo espaço inclusive para o rap, o reggae, o dubstep e o rock – e a utilização de instrumentos das mais variadas etnias O próprio nome da banda, que significa “dar e receber”, retrata com perfeição a explosiva troca de energia entre o quarteto e o público.
O maior expoente da música do Leste Europeu da atualidade foi criado no Teatro Dakh de Arte Contemporânea, na capital ucraniana. Seu diretor artístico, Vladyslav Troitskyi, foi quem teve a ideia de fundar o grupo para que participasse de uma produção teatral. Convidou três atrizes que cursavam a Universidade Nacional de Cultura e Arte de Kiev e se especializavam em folclore: a violoncelista Nina Harenetska, a pianista Iryna Kovalenko e a percussionista Olena Tsybulska.
A elas, se uniu o ator Marko Halanevych, que possui registro de voz de barítono e ainda canta em falsete emocionado, com interpretações cheias de alma. Os quatro fazem interessantes harmonias vocais e a percussão é um elemento-chave em suas apresentações. Em algum momento do show, cada integrante vai tirar ritmo de tambores, caixas e demais instrumentos percussivos de distintas origens, rompendo de fato quaisquer fronteiras.
‘Experimentar sempre’ é a palavra de ordem da banda
Inicialmente, o trabalho do DakhaBrakha, que reveste de contemporaneidade as antigas canções ucranianas, ficaria restrito à participação no teatro, mas como estava agradando imensamente ao público, depois de determinado tempo, o grupo percebeu que poderia se arriscar em voos mais altos, levar a sua arte a mais pessoas e outras partes, investindo no que melhor sabe fazer: experimentar.
Acertou em cheio, apesar de enfrentar no começo a reação dos puristas, que não viam com bons olhos o processo de globalização de suas raízes culturais, ao passo que a nova geração adorou a novidade e passou a lotar seus shows. A seriedade com que a banda trata suas tradições e o inegável talento falaram mais alto e o quarteto se consagrou, fazendo numerosas apresentações em sua região, gravando alguns temas, recebendo espaço na mídia e vencendo o Prêmio Sergey Kuryokhin (2009). De Kiev para os palcos estrangeiros, foi um pulo.
Assinatura própria – O percussionista brasileiro Bernardo Aguiar, que recentemente participou do festival austríaco Glatt & Verkehrt, ao lado de Carlos Malta e Marcos Suzano, assistiu ao concerto do DakhaBrakha e ficou muito bem impressionado.
“O show deles é a maior viagem. Eles têm uma potência vocal muito forte e a música nos leva para outra dimensão, parece que o tempo para. São capazes de criar ambiências e cenários musicais em que eu nunca tinha pensado estar, e eu gosto de coisas esquisitas. Eles têm uma esquisitice, no melhor sentido da palavra, e são muito comunicativos. O som deles é muito poderoso e tem uma assinatura própria. Apesar de haver muitas referências e de a gente se identificar com elas, sente que é uma nova referência chegando, de um lugar que a gente não sabe bem qual é. Então, é uma música que chega trazendo novidade, uma outra paisagem”.
A versatilidade dos músicos também é um ponto alto do concerto, na opinião de Bernardo: “Uma toca percussão e canta em outra música, outra toca flauta e piano, é tudo muito bem escolhido, na hora certa e no lugar certo. Eles sempre surpreendem, nunca vão no óbvio, apesar de que as referências musicais que chegam, você pode encontrar na música pop, só que é tudo muito etéreo. Aí entra um bate-estaca e eles acreditam nesse bate-estaca. São muito bons músicos e sabem exatamente o que estão fazendo”, atesta o experiente percussionista, que integra o Pife Muderno e o Pandeiro Repique Duo.
O DakhabBrakha fará dois concertos no MIMO Festival, no mês de outubro. A banda se apresentará em Ouro Preto (MG), no dia 8. Na semana seguinte, os artistas ucranianos serão atração da abertura do MIMO Paraty (RJ), no dia 14.