Custódio Castelo apura a sua música e vai mostrá-la no Palco MIMO
Por Deborah Dumar
Foto: Divulgação
Durante muito tempo, o virtuoso instrumentista da guitarra portuguesa era conhecido do público por ser o acompanhante predileto dos grandes cantores de fado, a começar por Amália Rodrigues, Vicente da Câmara, Manuel de Almeida e Fernando Farinha, e também da brasileira Maria Bethânia.
Hoje, Custódio Castelo figura como o principal nome da guitarra portuguesa e referência em sua renovação nas últimas décadas. Devido ao seu talento interpretativo, à audaciosa abordagem da sonoridade da guitarra e à criatividade como compositor, destacou-se de seus pares, ganhando projeção internacional.
Como solista, apresenta-se em importantes festivais, comoo World Music of Philadelphia, nos EUA, o North Sea Jazz, nos Países Baixos, o Festival duSud, na França, e o MIMO Festival, no Brasil (2014) e salas de concerto, como em Macau, a convite da Orquestra Chinesa.
Revitalização – A crítica já vislumbrara anos atrás que o artista, que foi vencedor do Prémio Amália Rodrigues na categoria “melhor instrumentista de fado”, em 2010, empenhava-se com êxito em revitalizar a guitarra portuguesa dentro e fora do país, assim como Paco de Lucia fizera com o flamenco.
Abrangente, aberto, de espírito livre e com a segurança de um longo percurso já percorrido, ele apresentará em concerto no MIMO Festival Amarante o magnífico álbum “Maturus”, que completa a trilogia, iniciada por “Tempus” (2007) e a que se seguiu “In Ventus” (2012).
Com a particularidade de ter gravado o novo disco com a guitarra “Siamesa” – única no mundo, construída por Óscar Cardoso, traz de um lado, a guitarra de Lisboa e, de outro, a de Coimbra, na mesma caixa de ressonância – Custódio amplia o seu espectro musical até o infinitoem “Maturus”.
Comparado ao trabalho que vinha desenvolvendo, o processo de criação recebe agora um tratamento minimalista, em que “menos é mais”. O álbum é temperado por passagens e transições harmônicas pelo jazz, o fado e a fusão de estilos e gêneros distintos, produzindo assim variadas texturas cromáticas, que vão do erudito ao popular.
A descoberta de Amália – Desde muito cedo, Custódio Castelo demonstrava vocação para a música. Nascido em dezembro de 1966, aos 7 anos de idade, construiu um instrumento e, na adolescência, tendo sido presenteado com uma guitarra acústica, participava de grupos de música popular e bandas de rock.
Porém, ao ouvir os discos da “Rainha do Fado”, tomado por um sentimento avassalador, viu surgir diante de seus olhos um novo universo: o jovem músico, de 16 anos, apaixonou-se de imediato pela guitarra portuguesa e passou a estudá-la com afinco. Tornou-se aluno de Lionel Menderico e aprimorou seu aprendizado, através do estudo do repertório tradicional de fados e guitarradas, com Raimundo Seixas.
Não demorou muito para entrar em estúdio e a estreia foi ao lado do lisboeta Jorge Fernando, fadista de grande sucesso, no álbum “Enamorado” (1986). A dupla firmava ali uma parceria de gravação e produção. Por quatro anos, Custódio tocou com Nuno da Câmara Pereira, com quem gravou o álbum “Só à noitinha” (1995), ao lado da Orquestra Sinfónica da Lituânia. Colaborou com vários outros artistas até que, finalmente, teve a oportunidade de se aproximar de Amália Rodrigues, tendo a honra de acompanhá-la em sua última turnê aos EUA.
Sua carreira deu um salto em 1998, quando Custódio se aproximou de Camané, Mísia e Carlos do Carmo, além de mostrar o seu projeto solo na Expo98, onde conheceu Maria Bethânia e foi chamado a fazer alguns espetáculos com ela. No mesmo ano, Custódio passou a coordenar o projeto artístico de Cristina Branco, construindo com ela “um fado com as fronteiras mal definidas, que ora se aproxima da tradição ora se afasta irremediavelmente, sobretudo por abrir espaço para uma complexidade melódica e instrumental, que parece indispensável ao génio de Custódio Castelo”, conforme descreveu o jornalista Manuel Halpern.