Aclamado pela crítica, o mais novo astro da guitarra africana se apresenta no MIMO
Por Deborah Dumar
Foto: Zeb Goodell
Filho do respeitado e saudoso guitarrista Ali Farka Touré – um dos pioneiros da moderna música africana, vencedor de dois Grammy e muitas vezes comparado ao americano John Lee Hooker – o carismático instrumentista, cantor e compositor malinês é um dos mais competentes artistas da atualidade. Aos 34 anos, em turnê pela Europa, Vieux Farka Touré se apresentará em concerto exclusivo, pela primeira vez em Portugal, no MIMO Festival Amarante.
Com notável destreza técnica e surpreendente segurança no palco, Vieux seduz o público com seus riffs e solos, acrescentando elementos do rock, da música latina, do funk, do R&B e do jazz ao deslumbrante fraseado que herdou do pai – músico que obtivera reconhecimento internacional ao misturar, com maestria, os sons da África ao blues americano.
Considerado “o novo herói da guitarra africana”, pelo jornal britânico “The Guardian”, ele vem atraindo todas as atenções por sua música universal e a paixão com que a interpreta. Já existe um consenso entre os críticos de que Vieux está construindo uma consistente carreira, que deverá levá-lo mais rápido e mais longe do que o próprio Ali, falecido em 2006 e que figura entre os “100 maiores guitarristas de todos os tempos”, na lista da “Rolling Stone”.
Recentemente, o artista foi capa da revista “Songlines”, sob o título “The malian Singer goes global” (“O cantor do Mali ganha o mundo”), para divulgar o CD “Touristes”, que gravou ao lado da cantora americana Julia Easterlin.
Primeiros anos – Nascido em Niafunké, Mali, em 1981, Vieux foi desencorajado pelo pai a se tornar músico. Ali explicou que não desejava que enfrentasse as mesmas dificuldades que ele no showbiz e queria que seguisse carreira militar. Com a ajuda de um amigo da família, o mestre da kora Toumani Diabaté, Vieux convenceu-o a dar a sua bênção, para então matricular-se no Instituto National des Arts, em Bamako.
Inicialmente, estudava bateria e percussão, mas, em 2001 e às escondidas do pai, passou a se dedicar à guitarra. Era seu DNA falando mais alto e a natureza seguindo seu curso. Impressionado com o talento do jovem artista africano, o empresário Eric Herman, da Modiba (EUA), demonstrou interesse em produzir o álbum de estreia de Vieux em 2005, porém fazia questão do aval paterno.
No final, deu tudo certo e o célebre Ali Farka Touré, já abatido pelo câncer, acabou participando das gravações. O CD saiu em 2007 e uma das canções, “Courage”, foi incluída na trilha sonora do filme “Uma lição de vida”(“The firstgrader”, 2010), do diretor Justin Chadwick, que recebeu prêmios em festivais internacionais.
Enquanto homenageava Ali e suas raízes no primeiro CD, no seguinte, “Fondo” (2009, Six Degrees), deu uma virada expressiva, atingindo uma posição honrosa na parada da “Billboard”, na categoria world music, e deixando a crítica extasiada com seu estilo. Surgia ali, sem dúvida, um astro, que não abandonava as suas influências, mas já se descolava da figura do pai famoso.
Milhões de pessoas em todo o planeta puderam apreciar a performance do músico emergente, em 2010, quando foi convidado a participar do concerto inaugural da Copa do Mundo na África do Sul, e dividiu o palco com artistas populares, como Shakira e Black Eyed Peas. No mesmo ano, Vieux lançaria outro CD, “Live”, e seu nome ganharia ainda mais destaque junto ao público e à mídia.
O guitarrista se supera no álbum seguinte, “The secret”,onde se apresenta ao lado do cantor sul-africano Dave Mathews e dos instrumentistas John Scofield e Derek Trucks. Naquele momento, Vieux se estabelece finalmente como um dos mais talentosos nomes da cena contemporânea.
Excelência e rigor – VieuxFarkaTouré continuou a brilhar em sua trajetória, através da excelência do projeto que fez em colaboração com o tecladista e compositor israelense pop star Idan Raichel, um encontro celebrado pelos fãs de ambos e pela mídia, “The Touré-Raichel – Colletive”, que resultou no “Tel Aviv sessions” (2012) e em “Paris sessions” (2014) e numa aclamada turnê da dupla com a banda.
Entre os dois álbuns, Vieux se empenhou na criação e realização do “Monpays” (“Meu país”), uma obra mais acústica, idealizada em razão dos conflitos entre os tuaregues e os islâmicos no Mali, no início de 2012, em que busca preservar a cultura e enaltecer a beleza de sua terra.
Muito bem avaliada pela crítica e na qual demonstra um lado mais maduro, o artista se destacanas canções “Futuro” e “Paz”. Gravado com o artista da kora Sidiki Diabaté, filho do amigo de Ali FarkaTouré, o CD traz um artista rigoroso e de grande valor, que vive expandindo seus horizontes e enfrentando desafios.
No MIMO Festival Amarante, Vieux fará um apanhado da sua obra, acompanhado pelo baixista Valery Assouan e o baterista Mamadou Kone, com repertório garimpado nos CDS “Fondo”, “The secret”, “Monpays” e “Touristes”.