Laginha e Burmester se reencontram para uma viagem pela música do mundo
O público do MIMO Festival terá o privilégio de testemunhar o encontro de dois excepcionais instrumentistas portugueses, artistas de renome internacional que investiram em trajetórias distintas e vêm se unir em uma viagem musical sem fronteiras. Com personalidades artísticas muito fortes, os pianistas Mário Laginha, que enveredou pelo jazz, e Pedro Burmester, que se dedica à música clássica, preparam um concerto a quatro mãos para apresentar no Palco MIMO.
O encontro se realizará no domingo, 17 de julho, no Parque Ribeirinho, junto ao Rio Tâmega, na charmosa Amarante, cidade que acolhe a primeira edição internacional do festival. O repertório muito pouco convencional passará pela Cuba de Aaron Copland e a Lisboa de João Paulo Esteves da Silva, pelo Brasil de Pixinguinha e a França de Debussy e Ravel e, ainda, pelas saudades do amigo Bernardo Sassetti, que, ao lado da dupla, fez o histórico concerto “3 Pianos” (2007), que foi lançado em CD e DVD.
Este reencontro é o primeiro depois do acidente fatal que Sassetti sofreu, em 2012, e o programa, desafiador e, ao mesmo tempo, prazeroso para os extraordinários intérpretes, pois traz muito do universo harmônico e rítmico do jazz e o requinte das obras dos mestres da música clássica. O resultado desta bem-sucedida parceria, que enaltece escolas e estilos de diferentes épocas, é primoroso.
Exuberância e criatividade
Mário Laginha está de volta ao MIMO, do qual participou em 2012 ao lado da cantora Maria João, com quem mantém elogiada parceria desde os anos 1980 e, a seu lado, ganhou notoriedade na área jazzística. A exuberante apresentação da dupla no festival, que mantém estreita ligação com a música brasileira, deixou crítica e público em êxtase.
O lisboeta, nascido a 25 de abril de 1960, decidiu se tornar músico profissional depois de ouvir Keith Jarret e a formação de excelência que obteve no Curso Superior de Piano do Conservatório Nacional permitiu-lhe evoluir como intérprete e compositor, a desenvolver identidade própria e a ganhar habilidade para escrever peças para as mais diversas formações, desde um trio de jazz a orquestras, e a compor temas para o cinema e o teatro.
Muito criativo, dono de impressionante solidez rítmica e imensa riqueza harmônica e melódica, Laginha é um dos mais representativos nomes do piano de jazz da cena mundial contemporânea. Entre o final dos anos 1980 e o início da década de 1990, ele e o aclamado pianista Pedro Burmester – que já ultrapassou a marca de mil concertos mundo afora – se cruzaram e, juntos, decidiram gravar “Duetos”, lançado em 1994 e que os fez sair em turnê de sucesso.
Disciplina e motivação – É bom destacar que, ao contrário de Laginha, que se abria a todo tipo de experimentações, Burmester (nascido no Porto, a 9 de outubro de 1963), desde criança, dedicava muitas horas de sua vida à dura disciplina que o estudo de piano requer. “Fui adulto muito cedo, no sentido em que a minha profissão me obrigava à responsabilidade”, admitiu, em recente entrevista.
Na mesma ocasião, destacou que era estimulado pela mãe a se tornar o melhor pianista do mundo: “Não é fácil, a partir dos sete anos, manter a obrigatoriedade de estudar todos os dias. Temos de fazer escalas e arpejos, uma espécie de ginástica dos instrumentistas. Não é propriamente música, é exercitar a máquina. Eu detestava. A minha mãe sentava-se ao meu lado e lia. Basicamente russos. O Tolstói, o Górki, o Dostoiévski. Lia alto, enquanto eu fazia escalas. Eu ficava entretido, a mexer os dedos e a ouvir uma história. Essa presença, a motivação inteligente, não me deixaram não levar o piano a sério”, comentou o ex-aluno de Helena Sá e Costa, concertista e professora dos conservatórios de Lisboa e Porto que ganhou projeção internacional com sua ação pedagógica. Burmester, tão logo se formou, viajou para os Estados Unidos a fim de aprimorar seu conhecimento com o exigente Sequeira Costa.
Com uma dezena de CDs lançados e uma atribulada agenda de concertos, Burmester foi diretor artístico e de educação na Casa da Música, projeto que ajudou a criar e a implementar. Atualmente, é professor na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo no Porto.