Artista nascido na cidade de Fafe, no Norte de Portugal, Valter Lobo ressurge com um álbum de músicas originais, intitulado “Primeira parte de um assalto” (2022). O cantor e compositor lançou o EP “Inverno”, em 2012, e o primeiro disco, “Mediterrâneo”, em 2016. Se o álbum de estreia o confirma como autor de referência na cena independente, o mais recente traz canções que retratam de forma romanceada a sua visão do mundo, temperada pela melancolia já conhecida de seu público.
Lobo integra a chamada “música popular contemporânea”, ao lado de uma nova safra de autores, que fala do amor e das questões ligadas ao nosso tempo, como a necessidade de se fazer uma pausa e se voltar para o que realmente interessa, a vida (que, sabemos, é breve). Tem consciência de que é necessário deixar-se assaltar pelos acontecimentos, pelas relações e mergulhar nas sensações que a vida proporciona.
Produzido e gravado por Pedro Sousa Moreira num moinho de vento centenário (Casa do Vento, Torres Vedras), “Primeira parte de um assalto” já se encontra disponível nas plataformas de streaming e será distribuído no formato físico junto ao público dos concertos ao vivo pelo próprio artista, através de uma edição de autor.
Lobo não esconde o orgulho de fazer (quase) tudo por conta própria, da criação das músicas à promoção e agenciamento. “Digo sempre que sou o mais independente do mundo. Editei o meu disco, fui eu que o paguei, que o desenhei, que o escrevi, fui eu quem fez as músicas. Eu é que fui buscá-los à fábrica e fiz a promoção. E correu bastante bem, mesmo sem grande airplay nas rádios”, declarou, em entrevista ao “Diário de Notícias”, advertindo: “Não procuro imitar ninguém, nem ser outra pessoa”.
Ao mesmo tempo que revela um vínculo muito pessoal com as canções, assume cada vez mais a sua independência, como declarou em entrevista recente. “Trabalhar e ter o controle de todo o processo de criação e produção de uma obra artística traz-me uma experiência muito mais intensa, valiosa e uma ligação impossível de romper. É mais uma prova de que existi”
Viagem imersiva para falar sobre a esperança
Antes da pandemia, Valter Lobo conta que tinha um disco praticamente pronto, mas preferiu guardar as músicas para outra ocasião, pois já não faziam mais sentido para ele naquele momento. “Deixei de me identificar com o que lá dizia. Acho que estava num momento menos consciente e, só por isso, mais feliz. Mais tarde, com a observação da evolução dos comportamentos no mundo, tive que escrever outras coisas. Não são canções para pôr toda a gente alegre quando o mundo que criamos é mau!”.
Em “Primeira parte de um assalto”, o artista faz mais uma viagem imersiva para falar sobre a esperança, e, também, sobre “sociedades cinzentas e automatizadas”. Ele atribui ao contato que teve com pessoas conformadas com certo modo de vida, crenças fixas e pensamento curto, o fato de abordar esses temas no novo álbum. “Fico nervoso por ver pessoas agarradas a algo que lhes faz mal e se permitirem aguentar aquilo toda a vida”, comentou.
Formado em Direito, chegou a exercer a profissão, trabalhando como jurista na Câmara de Fafe, mas viu que o caminho que desejaria seguir era outro. Ele continua ligado ao Direito e à autarquia de sua cidade: “O Direito não ficou de fora, porque faço aconselhamento jurídico aos artistas na GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas), no Porto”.
E não há nada de excepcional em sua ligação com a música, garante. Lobo era mais um adolescente no mundo a ser influenciado pelo pop rock britânico, na década de 1990, que começou a tocar os sucessos do Oasis e dos Blur. O passo seguinte, naturalmente, foi compor e formar uma banda. Quando chegou à universidade, em Braga, no entanto, a música ganhou outra dimensão em sua vida e ele criou, com os colegas, o grupo Wood Spirit. “Uma cena engraçada, mas muito deprimente, e a cantar em inglês, não sei o porquê, mas queríamos ser outros gajos quaisquer”.
Em artigo de 2021, ao “Público”, Lobo afirmava que a música “representa a injeção de sensibilidade que fará melhores os homens, que dá tom às suas estéticas e voz para que se construa um melhor lugar. É a viagem e o regresso.”