A genialidade da obra de Astor Piazzolla (1921-1992), um dos maiores nomes da música internacional de todos os tempos, continua a atrair as novas gerações. O compositor argentino Nico Sorin traz ao MIMO o tributo ao pai do Novo Tango, que teve uma estreia considerada avassaladora no Auditório Nacional do importante Centro Cultural Kirchner (CCK), em Buenos Aires.
Sorin reinterpreta parte da obra que Piazzola apresentou com seu octeto eletrônico no Olympia, de Paris, em 1977. A série de concertos no teatro francês foi considerada pela crítica da época uma exibição de talento, criatividade e exuberância sonora sem precedentes na história do tango. Tida como o momento em que o mestre – consagrado mundialmente por revolucionar o tango tradicional, adicionando a ele elementos do jazz e da música erudita – mais se aproximou do jazz rock.
O repertório se baseia nas músicas selecionadas para as apresentações parisienses, a exemplo de “Adiós, Nonino”, que o próprio autor elegeu como a sua obra-prima, “Libertango”, “Meditango”, “Zita” e “Violentango”. A partir das transcrições feitas por Sorin, dos arranjos dos temas e da escolha de músicos de diferentes gêneros e estilos, o projeto aborda o espírito de Piazzolla daquela época, sublinhando a energia de sua música com ares de rock.
“A primeira vez que ouvi o octeto eletrônico de Astor, isso me lembrou do espírito roqueiro de bandas como Deep Purple ou Pink Floyd. Ao retomar a obra do grande mestre, a palavra que me vinha à mente era ‘irreverência’. Acho que não havia artista mais irreverente do que Piazzolla e, com essa premissa e o respeito que sua música merece, montei um grupo de sete pessoas irreverentes para homenageá-lo”, comentou Sorin.
Música também para o cinema
Nascido em Buenos Aires em 1979, Nico Sorin se formou pela renomada Berklee College of Music (EUA), onde aprimorou seus conhecimentos com Bob Brookmeyer, María Schneider e Vuk Kulenovic. Finda a carreira acadêmica, teve a oportunidade de reger a London Session Orchestra, a Orquesta Sinfónica de México e a Henry Mancini Orchestra.
Filho do cineasta Carlos Sorin, ele também um apaixonado pelo cinema, Nico compôs a trilha sonora de diversos filmes, como “Minimal stories”, “The dog”, “The San Diego Road”, “30 noites com a minha ex”, “El gato desaparece”, “Joel” e “Fishing days”. Recebeu os prêmios Cóndor e Clarín aos 21 anos e foi indicado ao Grammy Latino como produtor em 2007, 2010 e 2013. Ao longo de sua carreira, trabalhou com artistas internacionais como Shakira, Alejandro Sanz, Juanes, Jovanotti e Miguel Bosé.
No belo Teatro Colón, por ocasião da gala musical em homenagem aos presidentes e líderes do G20, em 2018, Sorin dirigiu uma orquestra de 60 músicos, que executou a suíte “Argentum”, parceria dele com Gustavo Mozzi e Nicholas Gerschberg. É importante destacar que o universo de Nico Sorin viaja de maneira fluida do som das big bands às trilhas de cinema, entre as salas sinfônicas e os concertos de rock e sintetizadores.
Alma e cérebro da banda de rock Octafonic, criada em 2013, Nico ganhou duas estatuetas do Prêmio Gardel nas categorias de “melhor álbum de rock” e de “banda revelação” dois anos depois. Marcou para 2019 a estreia da “Sinfonia Antártica” no Salão Sinfônico do CCK, peça musical composta durante as viagens do músico ao continente branco, em 2013 e 2018. O gatilho conceitual deste trabalho tem a ver com a necessidade de gerar consciência sobre o meio ambiente.